Um momento de grandes reflexões sobre lutas, representatividade e o papel da mulher negra no reestabelecimento da democracia em nosso país.
É o que proporcionou a Live Educação e grandes possibilidades. SINDIUPES por toda parte, realizada nesta segunda-feira (25), com organização dos Coletivos de Mulheres e Combate ao Racismo/ Promoção da Igualdade Racial do SINDIUPES, com apoio da Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da CUT.
Atividade alusiva ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela – celebrados neste 25 de julho -, a Live teve como palestrantes Jackeline Rocha, ativista do Movimento pela Igualdade Racial, e Olindina Serafim Nascimento, Quilombola, Mestre e Doutora em Educação.
O evento foi transmitido pelo Zoom e contou com a participação de mais de 200 profissionais em Educação filiados/as ao SINDIUPES, cadastrados na Plataforma Digital com, no mínimo, sete dias de antecedência.
A Live contou com a mediação de Rakel Rissi, integrante do Coletivo de Combate ao Racismo do SINDIUPES, e saudações iniciais de Salomé de Sá e Sandra Bremer, titulares da Secretaria de Relações Étnicos-Raciais e de Gênero, respectivamente.
Desafios
Professora efetiva na Rede Municipal de São Mateus, norte do Espírito Santo, Olindina Serafim considera o 25 de Julho como parte das estratégias de luta em continuidade às ações da guerreira quilombola Tereza de Benguela.
“Existem muitos desafios impostos às mulheres negras desde o período da escravidão em uma sociedade patriarcal, machista e misógina. Nessa luta tenho como referência a figura de Tereza de Benguela, que teve um papel preponderante na vida e resistência do nosso povo negro, e é uma fonte de inspiração para nossa atuação e para as futuras gerações”.
Olindina Serafim também enfatizou a sintonia dos movimentos sociais em compreender que a luta das mulheres negras move o mundo.
“Há 30 anos aconteceu a 1ª Marcha das Mulheres Negras, em Santo Domingo, e precisamos saber com quem estamos marchando. O SINDIUPES é um aliado nessa luta pela educação, pela democracia e pela valorização das trabalhadoras com um recorte especial para a mulher negra”.
O compromisso com a democracia é outro ponto relevante nessa reflexão, aponta Olindina.
“Nesse mês de julho aprofundamos reflexões sobre políticas públicas efetivas para dar dignidade à vida das mulheres negras, e sobretudo para garantir a sua visibilidade e existência. A nossa responsabilidade, nesse momento, é não retroceder, lutar pelo reestabelecimento da nossa democracia, incluir negras e não negras nesse movimento, trazer os homens aliados, orientar e escolher projetos que defendam os livros, a vida e a natureza”.
Representatividade
A partir de relatos sobre sua história de vida pessoal, Jackeline Rocha chamou a atenção para a importância da representatividade da mulhere negra, principalmente em espaços de poder e decisão.
Neta de quilombola, filha de uma empregada doméstica e de um caminhoneiro, Jack trilhou o caminho contrário àquele reservado às mulheres negras em nosso país: formou-se em Administração, foi candidata ao governo do Estado em 2018 – ocupando a 3ª posição -, atuou como gestora na área de geração de renda, e, atualmente, é presidente estadual do PT e pré-candidata à deputada federal.
“Quando adolescente tive uma professora negra que me inspirou e me fez acreditar que eu poderia lutar por uma sociedade sem racismo e com equidade social. Cresci com o entendimento de que precisamos contar a história que não está nos livros, devemos lutar pela implementação efetiva da lei 10.639, pois vivemos em um país que ainda mantém características de uma sociedade escravocrata, tanto nas relações pessoais, profissionais e sociais”.
Na avaliação de Jackeline Rocha, na atual conjuntura em que o Estado nos nega a condição de ser mulher, o caminho é fortalecer a democracia e dar voz à quem não tem.
“Nos últimos anos houve um desmonte de políticas públicas que prejudicou principalmente as mulheres negras. No Congresso Federal, o percentual de deputadas e senadoras não chega a 15%, e está nas nossas mãos mudar essa realidade. Nesse momento de democracia frágil, precisamos aumentar a participação da mulher na política, lembrando sempre que, antes de nós, muitas lutaram para que hoje estivéssemos aqui”.
Histórico
O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi instituído em 1992, no I Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado na cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana, tendo como objetivo dar visibilidade e reconhecimento à presença e à luta das mulheres negras nesse continente.
No Brasil, em 2014, a então presidenta Dilma Rousseff reconheceu o dia 25 de julho como uma homenagem à figura histórica de Tereza de Benguela, conhecida como “Rainha Tereza” no Vale do Guaporé (MG), e instituiu, por meio da Lei nº 12.987, o Dia Nacional da Mulher Negra.
No século 18, Tereza de Benguela tornou-se líder do Quilombo de Quariterê, local de fuga para escravos —homens e mulheres— e abrigo de povos originários por aproximadamente duas décadas, sendo dizimado por força do estado colonial brasileiro em 1770.