Como garantir condições iguais de livre exercício da religiosidade dentro e fora da escola? Essa e outras questões estiveram em debate na I Conferência de Enfrentamento à Intolerância Religiosa e Possibilidades de Novos Caminhos e Resistência dos Saberes Ancestrais, que aconteceu nos últimos dias 03 e 03 de março, no município de Conceição da Barra, no norte do Estado.
Realizado pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas com o apoio da Secretaria de Relações Étnicos-Raciais do SINDIUPES, o evento reuniu professores de Linhares, Conceição da Barra, Pedro Canário e São Mateus, além de diretores/as sindicais e representantes de religiões de matrizes africanas.
Entre os palestrantes da Conferência, o diretor do SINDIUPES e Secretário de Direitos Humanos da CNTE Christovam Mendonça abordou em sua fala o racismo estrutural e institucional destacando as religiões de matrizes africanas que sofrem racismo no espaço da escola, seja pelo silenciamento ou de forma explícita.
” A intolerância que está presente em vários espaços da sociedade e considera um deus melhor e maior que o deus do outro, da religião do outro, precisa ser discutida e combatida. Temos uma triste realidade nas escolas em que os estudantes vivem agressões todos os dias porque não podem expressar sua religião nem contar suas experiências no Candomblé e na Umbanda, diferentemente das religiões tradicionais. Sabemos que a legislação criminaliza a intolerância religiosa, porém não conseguimos vivenciar isso na prática”, e ressalta ” a beleza e a riqueza da diversidade religiosa é o ideal que precisamos aprender. A sabedoria ancestral é o ideal que precisamos cultivar'”.
Propostas
Para a Secretária de Relações Étnicos-Raciais do SINDIUPES, Salomé de Sá, entre os pontos relevantes nessa pauta do enfrentamento ao racismo religioso está o chamamento dessa Conferência pelo Sindicato e sua a contribuição nas propostas finais.
“Essa região do norte do Estado, que chamamos de Sapê do Norte, não possui um fórum, um conselho instalado, para eles serem ouvidos e terem voz. E essa Conferência representa um passo importante na construção desse espaço de debate, buscando enfrentar o racismo de forma organizada com o povo negro, quilombola.”
Salomé também chama atenção para outro encaminhamento da Conferência, construído junto à Secretaria Municipal de Assistência Social: a criação de uma uma frente para fazer esse diálogo institucional junto aos prefeitos, por meio de uma comissão integrada pelo povo negro e fazedores de cultura – guardadores da cultura e dos saberes quilombolas.
” Nossa proposta para o ano de 2023 é a realização de cinco diálogos quilombolas com práticas e saberes que permitam compreender a convivência entre as religiões. Além da Conferência, organizaremos, entre outras atividades, um Café Literário na Casa da Barra com o objetivo de reunir intelectuais locais, escritores, fotógrafos, jornalistas e os povos originários e quilombolas”.
O evento foi realizado no CRAS Negro Rugério, no município de Conceição da Barra, e contou ainda com as presenças do diretores/as do SINDIUPES Alexandre Marcelino, Elci Lobão, Lorraine Rangel e Sueli Guimarães.
Mãe Gessi de Iansã do Ponto de Memória do Quilombo de Linharinho fez os cantos de abertura e do final da Conferência
Didito Camillo, ator e produtor cultural, e Letícia Giuberti, professora da rede pública, com o filho.
Fotos do evento: Henrique Selva Manara, fotógrafo e produtor cultural