Voz com grande força na poesia brasileira, Elisa Lucinda encantou as/os aposentadas/os que lotaram o auditório para assistir à palestra Os prazeres da vida, no segundo dia do 6º Encontro Estadual de Aposentadas/os, nesta terça-feira (05).
Elisa recitou poesias, relatou histórias vividas e ouvidas por ela, cantou e falou de amor, e também levantou reflexões sobre questões de gênero e o combate à desigualdade de raça e classe.
Poeta, escritora, jornalista, cantora e atriz de teatro, cinema e TV, Elisa Lucinda nasceu em Cariacica na Região Metropolitana da Grande Vitória e vive no Rio de Janeiro.
Seus livros de poesia “O semelhante”, “Eu te amo e suas estreias” e “A fúria da beleza” já venderam milhares de exemplares e foram transformados em espetáculos pela atriz.
Como observadora do cotidiano, Elisa Lucinda fez uma declaração de amor às/aos professoras/es, ressaltando sua tarefa diária de educar crianças e o seu papel na construção de um mundo melhor.
Foram vários momentos emocionantes na sua apresentação e, em um deles, ofereceu ao Encontro Estadual o seu primeiro poema O Semelhante.
“O Deus da parecença
O que nos costura em igualdade
O que nos papel-carboniza em sentimento
O que nos pluraliza
O que nos banaliza por baixo e por dentro
Foi este Deus que deu destino aos meus versos
Foi ele quem arrancou deles a roupa de indivíduo
E deu-lhes outra de indivíduo ainda maior
Embora mais justa
Me assusta e acalma
Ser portadora de várias almas
De um só som comum eco
Ser reverberante
Espelho, semelhante
Ser a boca
Ser a dona da palavra sem dono
De tanto dono ela que tem
Esse Deus sabe que a palavra “alguém”
É apenas o singular da palavra “multidão”
Eee mundão
Todo mundo beija
Todo mundo deseja
Todo mundo almeja
Todo mundo chora
Alguns por dentro
Alguns por fora
Alguém sempre chega
Alguém sempre demora
Um Deus que cuida do não-desperdício dos poetas
Deu-me essa festa de similitude
Bateu-me no peito do meu amigo
Encostou-me a ele
Em atitude de verso beijo e umbigos
Extirpou de mim o exclusivo:
A solidão da bravura
A solidão do medo
A solidão da usura
A solidão da coragem
A solidão da bobagem
A solidão da virtude
A solidão da viagem
A solidão do erro
A solidão do sexo
A solidão do zelo
A solidão do nexo
Esse Deus soprador de carmas
Deu de me fazer…
Parecida
Aparecida
Santa
Puta
Criança
Deu de me fazer diferente
Pra que eu provasse da alegria
De ser igual a toda gente
Esse Deus deu coletivo ao meu particular
Sem eu nem reclamar
Foi ele, o Deus da par-essência
O Deus da essência par
Olha, não fosse a inteligência da semelhança
Seria só o meu amor
Seria só a minha dor
Bobinha e sem bonança
Seria sozinha minha esperança”
Veja, abaixo, mais registros da palestra de Elisa Lucinda: